domingo, 21 de outubro de 2012

Mateus - A Virgem Maria





A virgem Maria

Já vimos que as genealogias apresentadas por Mateus e Lucas tentam mostrar que Jesus era um descendente directo do rei David por parte de José. No entanto, o relato da gravidez de Maria em Mateus e Lucas, mostram claramente que José não é o pai de Jesus, pois Maria ficou grávida ainda virgem, fertilizada pelo Espírito Santo, tornando as genealogias de José teologicamente insignificantes.

Mas, se José não é o pai de Jesus, temos de saber porque é que “Mateus” e “Lucas” incluíram a genealogia nos seus textos. A resposta poderá ser que o relato sobre a mãe virgem deverá ter sido inserido posteriormente, numa altura em que já circulariam edições com a genealogia.

É possível que o relato sobre a virgem tenha sido inserido após uma versão inicial, para acrescentar mistério à crença em Jesus Cristo e para melhor acomodar fiéis convertidos de outras crenças. Uma pista desta inserção é que em todo o texto do Novo Testamento não existe menção da virgem Maria a não ser nos poucos versículos sobre a Anunciação colocados no início de Mateus e Lucas. Um evento tão miraculoso e com esta importância deveria ser descrito mais vezes e usado para dar suporte à doutrina.

Dá a entender que a história da virgem foi inserida mais tarde, quando se estava a desenvolver a doutrina da divindade de Jesus. Terá sido necessário fundir a personagem de Jesus Nazareno com o Cristo, Filho de Deus. Mas esta nova doutrina, trouxe o problema de colocar Jesus fora da descendência de David, colocando inconsistências nos evangelhos de Mateus e de Lucas.

Se o episódio da Anunciação foi inserido mais tarde, pode ter sido por outra pessoa ou pode ter sido pelo próprio autor da versão inicial, ao criar uma edição revista da sua obra. Seja como for, vamos continuar a chamar “Mateus” a este autor.

Para justificar a gravidez de uma virgem, “Mateus” refere-se a uma profecia de Isaías do Antigo Testamento.

Isaías
Mateus
Isaías 7:14-16 Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem [heb. almah ou "mulher jovem"] conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Pois antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, será desolada a terra dos dois reis perante os quais tu tremes de medo. ...
Mateus 1:22-23 Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem [gr. parthenos] conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco.

Esta profecia dizia respeito ao rei Acaz, de Judá, cerca de setecentos anos antes, sobre o destino do rei do Norte de Israel e do rei da Síria que, coligados, ameaçavam o reino de Judá, e o próprio destino deste por ter-se aliado aos assírios. No texto hebraico, a passagem menciona uma “mulher jovem” (heb. almah) e não uma "virgem" (heb. betulah) que é uma palavra totalmente diferente. E não se pode colocar a hipótese de o autor de Isaías não saber utilizar a palavra betulah, pois utilizou-a cinco vezes noutras passagens (Isaías 23:4, 12; 37:22; 47:1; 62:5) enquanto a palavra “almah” só foi utilizada em Isaías 7:14.

No tempo de “Mateus” os livros do Antigo Testamento circulavam em tradução grega (tradução Septuaginta), e na passagem para o grego, a palavra almah foi incorrectamente traduzida para parthenos, "virgem". As mais rigorosas traduções do Antigo Testamento já vertem “mulher jovem”, em vez de “virgem”, no texto de Isaías 7:14. Estas incluem as seguintes: Revised Standard Version, The New Jerusalem Bible, The Revised English Bible, The Good News Bible, The New Revised Standard Version.

Seja como for “Mateus” transcreveu apenas uma das frases da profecia, colocando-a completamente fora do contexto. Esta passagem obviamente não está relacionada com um Messias nem com Jesus, pois Jesus nunca é referido no Novo Testamento com o nome de Emanuel, nem sobre ele comer manteiga e mel e nem sobre os dois reis da profecia de Isaías.

A profecia de Isaías refere-se aos dois reis que intentaram invadir Judá - o rei de Israel e o rei da Síria. Refere-se principalmente a Acaz, rei de Judá, que se sentia ameaçado. Supostamente Acaz iria receber um sinal de uma mulher que daria à luz um filho que se chamaria Emanuel e, em pouco tempo, quando o menino deixasse de mamar e começasse a comer manteiga e mel, os seus inimigos iriam ser derrotados. Para que isso acontecesse Acaz pediria ajuda ao imperador assírio Tiglath Pileser para derrotar os seus inimigos. O imperador ajudou Acaz a manter o seu trono em Judá, mas em troca exigiu pesados tributos.

Para finalizar, antigos apologistas cristãos sugeriram que os judeus criaram o nome Jesus ben Pandera fazendo um trocadilho da expressão grega Iesous Uios Parthenos (Jesus filho da Virgem) para Iesous Uios Panthera (Jesus filho de Pandera ou Jesus ben Pandera). Ou seja, o nome Pandera resultava de uma corrupção da palavra Parthenos (virgem).

6 comentários:

  1. Que lê a bíblia e compreende da forma que está escrita e não ao próprio modo percebe que Maria sempre foi virgem e gerou Jesus(o próprio Deus da Santíssima Trindade)através do Espírito Santo..."Maria perguntou ao anjo:Como se fará isso, pois não conheço homem?Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra.Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus."Lc 1,34-35
    Muito fácil querer tirar livros da bíblia e colocar como inválido mas oque está escrito é isso e pronto..."Se alguém pregar doutrina diferente seja excomungado" (Gl 1,9)

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  2. Interessante o texto. Mas que foto é essa, em quê vc acredita? Isso é imagem de Virgem Santa?????

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    1. Obrigado pela apreciação.
      A imagem é uma satirização da Virgem.

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    2. É uma virgem santa muito deliciosa 😋

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  3. Gostaria de saber, onde e como trouxeram essas narrativas que determinam os atributos divinos de jesus!, Porque os Concílios feitos pelo cléro católico Romano foi resolver essas questões intrigantes no início do cristianismo como religião oficial de Roma, então está óbvio que não era uma verdade absoluta e única, haviam conflitos!!

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