quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

João vs Sinópticos V - Data da Morte de Jesus, Sinais




Data da morte de Jesus

Nos evangelhos sinópticos, Jesus come a refeição da Páscoa com os apóstolos, na noite anterior à sua morte. Essa refeição consiste num cordeiro sacrificado segundo a tradição judaica, para ser consumido no jantar de 14 do mês de Nisã. A morte de Jesus ocorre no dia seguinte, dia da Preparação (sexta-feira = preparação do sábado) dia 15 de Nisã, o dia a seguir à Páscoa.

Marcos
Mateus
Lucas
Marcos 14:12 Ora, no primeiro dia dos pães ázimos, quando imolavam a páscoa, disseram-lhe seus discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a páscoa?
Mateus 26:17 Ora, no primeiro dia dos pães ázimos, vieram os discípulos a Jesus, e perguntaram: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?
Lucas 22:7-9 Ora, chegou o dia dos pães ázimos, em que se devia imolar a páscoa; e Jesus enviou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. Perguntaram-lhe eles: Onde queres que a preparemos?



Em João, a morte de Jesus ocorre no próprio dia da Páscoa, também uma sexta-feira, mas no dia 14 de Nisã.
João 18:28 Depois conduziram Jesus da presença de Caifás para o pretório; era de manhã cedo; e eles não entraram no pretório, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa
João 19:13-14 Pilatos, pois, quando ouviu isto, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gabatá. Ora, era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta. E disse aos judeus: Eis o vosso rei.

Podemos ler em João 18:28, que, no dia do julgamento (e morte) de Jesus, os sacerdotes evitaram entrar no palácio do governador para “não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa”. Em João 19:13-14, na descriçao do julgamento de Jesus, lemos que era o dia da preparação da páscoa. Isto indica claramente que ainda não tinham celebrado a páscoa, isto é, ainda não tinham tomado a refeição nocturna da páscoa.

Por outro lado, Jesus é retratado por João Baptista como o próprio “cordeiro de Deus”, o último sacrifício de páscoa.

João 1:29 No dia seguinte João viu Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 
João 1:36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!

Portanto a crucificação de Jesus seria considerada a última “refeição” de páscoa, porque seria considerada o sacrifício do “Cordeiro de Deus”. Toda esta narrativa está de acordo com o edifício doutrinal de João que começa com Jesus a afirmar que “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (João 6:53-56). A partir dali nunca mais seria necessário fazer sacrifícios animais para Deus para o perdão de pecados.

Na verdade, os judeus, ao ficarem privados do seu Templo em 70 EC, por causa da destruição causada pelos romanos, nunca mais fizeram sacrifícios animais (isto até hoje, século XXI). Tendo em conta que João foi escrito depois do ano 100 EC, esta doutrina seria bastante apelativa para os judeus, pois podiam enveredar por uma fé em que não era necessário fazer sacrifícios animais para o perdão dos pecados.



Quantos sinais?

Se Jesus seria o Messias, haveria quem pedisse provas concretas de que ele seria o tal. Vejamos qual a resposta de Jesus a esta solicitação:

Nenhum sinal
Um sinal
Muitos sinais
Marcos 8:11-12 Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, pedindo-lhe um sinal do céu, para o experimentarem. Ele, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não será dado sinal algum.
Mateus 12:38-39 Então alguns dos escribas e dos fariseus, tomando a palavra, disseram: Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas;
Lucas 11:29 Como afluíssem as multidões, começou ele a dizer: Geração perversa é esta; ela pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas;
João 2:11 Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
João 2:23 Ora, estando ele em Jerusalém pela festa da páscoa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
João 4:54 Foi esta a segunda vez que Jesus, ao voltar da Judeia para a Galiléia, ali operou sinal.
João 6:2 seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos.    
João 12:37 E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele;


Temos aqui uma grande diferença de doutrinas nos vários livros:
-          Nenhum sinal: em Marcos, como temos uma doutrina de missão secreta, Jesus começou por afirmar que não daria nenhum sinal para provar que era realmente o Messias. Quem quisesse ser seguidor tinha é que decifrar a sua mensagem enigmática e acreditar nele.

-          Apenas um sinal: em Mateus e Lucas, descobrimos que Jesus indicou que iria mostrar um e um só sinal: o “sinal de Jonas”. Tal como Jonas esteve na barriga do peixe durante três dias, Jesus estaria na morte durante três dias. As pessoas iriam acreditar na mensagem assim que soubessem que ele próprio tinha ressuscitado da morte.

-          Muitos sinais: em João temos a surpresa que, afinal, os sinais que Jesus mostrou foram muitos e bem claros, pois foram presenciados por grandes ajuntamentos. O autor queria “provar” o quão “estúpidos” foram os judeus ao não acreditarem na mensagem de Jesus depois de assistirem a tão claros e expressivos sinais.


E, na verdade, é impossível perceber qual foi realmente o segundo sinal manifestado por Jesus, em João, porque:
-          em João 2:11 é declarado o primeiro sinal: a transformação de água em vinho;
-          em João 2:23 são declarados “muitos sinais” sem os especificar;
-          em João 4:54 é declarado o segundo sinal: a cura do filho de um oficial do “rei” (João chama “rei” a Herodes, quando o título oficial era tetrarca).


Ao longo do texto, são mencionados mais dos “muitos sinais” que Jesus realizou e mostrou (João 3:2; 4:48; 6:14; 7:31; 9:16; 11:47; 12:8; 20:30).

O sinal que “João” descreveu como sendo o primeiro de Jesus foi a transformação de água em vinho durante uma boda onde Jesus era convidado. Não nos debruçando sobre a futilidade deste episódio, porque o que Jesus consegue é apenas ultrapassar o incómodo da falta de vinho durante uma festa, o que interessava ao autor era mostrar que Jesus tinha tanto poder como Dionisos, o deus grego do vinho, ou que Jesus era o próprio Dionisos.




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