segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Seculo I - Quem era o Jesus do ano 62 ?





Josefo menciona, numa passagem, um outro Jesus num episódio ocorrido no ano 62 (“quatro anos antes da guerra”). Esta personagem tem muitas semelhanças com o Jesus dos evangelhos mas, neste tempo, o Jesus dos evangelhos já deveria estar morto por quase 30 anos... se é que existiu. Vejamos a passagem:
A Guerra dos Judeus, VI, 5, 3 
Mas um outro portento foi ainda mais assustador. Quatro anos antes da guerra, quando a cidade desfrutava de grande paz e prosperidade, um tal Jesus, filho de Ananias, um rude camponês, veio à festa na qual todos os Judeus costumam erguer tabernáculos a Deus. Entrando no Templo, pôs-se subitamente a gritar, «Uma voz do oriente, uma voz do ocidente, uma voz dos quatro ventos. Uma voz contra Jerusalém e o santuário, uma voz contra o noivo e a noiva, uma voz contra todo o povo». Depois, percorreu todas as ruelas, dia e noite, com este grito nos lábios. Alguns dos principais cidadãos, furiosos com estas palavras de mau agoiro, prenderam-no e castigaram-no duramente. Mas ele, sem uma única palavra em sua defesa ou para os ouvidos dos que lhe batiam, continuou com os seus gritos. Os magistrados, convictos de que o homem se encontrava sob um impulso sobrenatural – o que era verdade -, levaram-no ao governador romano. Apesar de flagelado até aos ossosnão implorou misericórdia nem derramou uma lágrima, gemendo entre cada chicotada, «Ai de Jerusalém!». Sempre que Albino, o governador, lhe perguntou quem era, donde vinha e porque dava aqueles gritos, ele nunca lhe respondeu, reiterando incessantemente as suas lamentações pela cidade, até que Albino o declarou louco e o deixou ir embora
Durante todo o período que antecedeu a eclosão da guerra, nunca se aproximou de nenhum dos cidadãos nem lhes dirigiu a palavra, mas todos os dias, como uma prece que tivesse decorado, repetia o seu lamento: «Ai de Jerusalém!». Nunca amaldiçoava os que diariamente lhe batiam, nem abençoava os que lhe davam comida. A todos respondia apenas com o seu melancólico presságio, e os seus gritos eram mais altos durante os festivais.
E assim continuou as suas lamentações, durante sete anos e cinco meses, sem nunca exaurir a voz nem as forças, até que, durante o cerco, depois de ver comprovado o seu augúrio, morreu. Num dia em que percorria as muralhas aos gritos lancinantes de «Ai da cidade, ai do povo, ai do Templo», ao acrescentar «e ai de mim» foi atingido por uma pedra atirada por uma balista e morreu instantaneamente com estas palavras nos lábios.


Josefo escreveu este texto muito pouco tempo depois dos acontecimentos que relata. A Guerras dos Judeus, escrita cerca de 75 EC, é a história dos Judeus desde o tempo da revolta dos Macabeus, em 165 AEC, até à destruição de Jerusalém em 70 EC. Vamos relembrar as datas dos acontecimentos durante e após a Guerra dos Judeus:

Data
Acontecimentos
66 EC
Início da Grande Revolta dos Judeus contra os romanos. Josefo é comandante militar na Galiléia. Vespasiano é comissionado por Nero para conter a revolta.
67 EC
Josefo rende-se a Vespasiano, na Galiléia, em Jotapata.
69 EC
O império romano ameaça desmoronar-se: quatro imperadores num ano. Vespasiano torna-se imperador de Roma.
70 EC
Tito derrota os judeus em Jerusalém. O Templo é destruido.
73 EC
A última bolsa de resistência judaica é derrotada em Masada.
75 EC
Josefo escreve Guerras dos Judeus.
94 EC
Josefo escreve Antiguidades Judaicas.


Quem eram as personalidades políticas deste tempo e local (ver mais...):

Data
Judeia (Jerusalém)
Galileia
60 EC
Festus, prefeito (60 - 62 EC) 
Agrippa II, rei (52 - 93 EC)
62
Albinus, prefeito (62 - 64 EC)
64
Florus, prefeito (64 - 66 EC)
66
Grande Revolta (66 - 73 EC)
68
70


Vamos agora comparar o Jesus dos evangelhos com o Jesus, filho de Ananias, desta passagem de Josefo:


Jesus dos evangelhos
Jesus, filho de Ananias
Enquadramento
Prefeitura de Pilatus (26 a 36 EC)
Prefeitura de Albinus (62 a 64 EC)
Nome
Jesus
Jesus
Veio a Jerusalém durante uma grande festividade
Sim
Sim
Gritou no Templo
Sim
Profetizou a destruição de Jerusalém
Sim
Sim
Foi detido
Sim
Foi açoitado pelos judeus
Sim
Sim
Foi açoitado pelos romanos
Sim
Sim
Foi julgado pela autoridade romana
Sim
Foi condenado pela autoridade romana
Não
Não
Data da morte
69 EC
Causa da morte
Pedra de balista



Conclusão: não podem ser coincidências as semelhanças entre as duas personagens: Jesus dos evangelhos e Jesus, filho de Ananias. É possível que a personagem Jesus, filho de Ananias, tenha tido influência na construção da personagem de Jesus dos evangelhos.



Referência web: http://www.ccel.org/j/josephus/works/war-6.htm


5 comentários:

  1. É também a minha opinião.
    E quando uma personagem é construída a partir de várias outras, acaba por ser inteiramente fictícia.
    Basta juntar a biografia de apenas duas pessoas numa só para criar uma nova personagem inteiramente fictícia!

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  2. Tal raciocínio não me parece coerente. Flávio Josefo tb apresenta relato sobre Jesus Cristo em seu livro Antiguidades. Em nenhum momento, ele induz a crer que Jesus Cristo, a quem parece não ter conhecido, era Jesus filho de Ananias. Não há correlação entre as personagens.
    Pq seriam a mesma pessoa? Ou pq um teria inspirado o outro? Pq se chamavam Jesus? Pq foram presos e açoitados pela autoridade romana? Quantas pessoas de nome João foram presas em nossa atualidade pela autoridade local? De onde concluem que Jesus era um nome tão especial que só era portado por uma única Pessoa e não por centenas? E pq só um Jesus seria açoitado e preso pela autoridade da época?

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  3. Esse Jesus filho de Ananias foi um cristão que anunciava a destruição de Jerusalém que foi anunciada por Jesus Cristo no Sermão Profético. Não se trata da mesma pessoa, na verdade, esse relato se encontra no capítulo que Flávio Josefo narra os sinais que precederam a guerra juidaico-romana, e que confirmam o Preterismo. O nome Jesus era bem famoso no meio judeu (Jesus deriva do nome Josué). Além disso, o próprio Josefo diz que a guerra e destruição do Templo ocorreu por terem matado Jesus e depois seu irmão Tiago, bispo de Jerusalém. Jesus filho de Ananias foi um mártir e bom cristão. Entre os sinais que precederam a guerra Josefo conta que antes do pôr do sol, os sacerdotes ouviram um grande estrondo e um terremoto depois viram carruagens de fogo no céu e uma voz que repetia várias vezes "saiamos daqui". Esse relato nos lembra a ressurreição das duas testemunhas de Apocalípse. Quem tiver curiosidade de conhecer o Preterismo pesquise Revistacristaultimachamada ou Arquivo Preterista.

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