sábado, 12 de outubro de 2013

Século II - O Triunfo dos Evangelhos



O triunfo dos evangelhos

A história do Jesus Nazareno foi crescendo em detalhe e versões até existirem numerosas obras escritas; o Cristo mítico das cartas de Paulo é ultrapassado pelo Jesus dos evangelhos.
Foram, no entanto, necessários muitos anos para os evangelhos encontrarem consenso entre os cristãos:

-          110 EC – Inácio De Antioquia na sua carta aos Esmirniotas, por volta de 110 EC, revela preocupação com os docetistas – cristãos que não acreditavam que o Filho de Deus tinha encarnado em Jesus da Nazaré.

-          135 EC – Justino Mártir escreveu no Diálogo com Trifon: "[Trifon disse:] ‘mas Cristo, se realmente nasceu e existe, é desconhecido, não se conhece a ele próprio, não tem poder até que Elias venha e faça a sua unção e o mostre a todos. E vocês [cristãos], aceitando um relato insustentável, inventam Cristo e morrem em sua defesa’”. É de presumir que este Trifon combatia o cristianismo e Justino escreveu uma apologia contra os ataques de Trifon. Nesta apologia Justino afirma que o Diabo antecipou-se a Jesus e criou os mitos de Dionisos, Hercules e Esculápio (Diálogo com Trifon, capítulo LXIX).

-          142 EC – Marcion de Sínope produziu um evangelho (semelhante ao de Lucas) e propôs este e apenas dez cartas de Paulo para formar um cânon de escrituras cristãs.

-          150 EC – Papias (segundo Eusébio, 200 anos depois, porque as obras de Papias não sobreviveram) escreveu Interpretações dos Dizeres do Senhor, possivelmente baseado no Evangelho Q, onde também afirma ter conhecido as filhas do apóstolo Filipe e um tal João, o Idoso. Papias afirmou dar mais valor às palavras que ouviu directamente dos “anciãos” ou dos seus seguidores do que aos escritos. Eusébio cita Papias de um modo evidentemente depreciativo (História da Igreja, III, 39).

-          160 EC – Justino menciona alguns episódios da Paixão e outros episódios encontrados nos evangelhos, a que se refere como “o Evangelho”, sem especificar nenhum por nome nem o número de versões conhecidas.

-          172 EC – Tatiano refere-se a quatro evangelhos (sem os nomear) que obteve de Justino (que foi morto em 168 EC pelo prefeito de Roma) e harmonizou-os numa obra única, o Diatessaron, onde omitiu as genealogias e tudo o que indicasse que Jesus provinha da linhagem de David.

-          178 EC – Celsus escreveu na Verdadeira Palavra: "Obviamente os cristãos utilizaram... mitos... ao fabricarem a história do nascimento de Jesus... É claro que os escritos cristãos são uma mentira e as suas fábulas não são suficientes para esconder esta monstruosa ficção". As obras de Celsus, por serem demasiado danosas para os cristãos, foram todas destruídas mas algumas frases sobreviveram em obras de apologistas cristãos como, por exemplo, Orígenes em Contra Celsus. Na sua obra, Celsus terá referido que Jesus Nazareno era filho de um soldado romano chamado Panthera (ou Pandera).

-          185 EC - Ireneu em Contra Heresias explica a “razão” para haver apenas quatro evangelhos verdadeiros: “... porque existem quatro direcções no mundo, quatro ventos, quatro criaturas (referindo-se a Revelação 4:7) ...” (Contra Heresias III, 11). Ireneu é o primeiro a dar o nome aos quatro evangelhos canónicos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Afirmou que a vida pública de Jesus durou desde os 30 anos até, pelo menos, aos 40 anos.

-          195 EC - Tertuliano, em Contra Marcion, cita o evangelho de Lucas. No entanto atribui o alegado censo do tempo do nascimento de Jesus ao governador Saturnino (9 AEC), quando o evangelho de Lucas atribui o censo ao governador Quirinius (6 EC), deixando um lapso de 15 anos para a data do nascimento de Jesus. Isto mostra que a versão do Evangelho de Lucas que Tertuliano conhecia era diferente da versão que chegou aos dias de hoje.



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