domingo, 3 de maio de 2015

Enuma Elish - o Génesis Acadiano




O Enuma Elish é o mito de criação babilónico. Foi descoberto nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive (Mossul, Iraque).

O achado consiste em sete tábuas de argila escritas em babilônico antigo (acadiano), datadas do século VII AEC. O texto poderá ter uma origem mais antiga, provavelmente do tempo de Hamurabi (sec. XVIII AEC).

Este épico é uma das fontes mais importantes para a compreensão da cosmovisão babilónica, centrada na supremacia de Marduk e da criação da humanidade para o serviço dos deuses.

Para a cultura babilónica, o Enuma Elish explica a origem do poder real, a sua natureza, a permanência da instituição e a sua legitimidade. A realeza humana e terrena tem a sua origem na realeza divina. A divindade continuará a ser o verdadeiro rei e também o modelo a imitar pelo rei terreno. A existência de um modelo divino impõe limites à realeza humana.

O nome atribuído a esta peça de literatura foi baseado nas primeiras palavras do poema.

Enuma elish - "Quando lá do alto" 
Apsu - masculino, água doce, progenitor
Tiamat - feminino, água salgada, caos, abismo, representada por um monstro marinho
Marduk - matou Tiamat para estabelecer a ordem, criador dos homens 
Quando lá no alto os céus não tinham nome, e em baixo a terra não fora nomeada, havia senão o primordial Apsu, águas doces, progenitor, e a tumultuosa Tiamat, águas salgadas, o útero de tudo. 
E nenhum campo estava formado, nem pântanos eram vistos, quando os deuses não tinham nome, natureza ou futuro, então a partir de Apsu e Tiamat, nas águas dele e dela, foram criados os deuses, e para dentro das águas precipitou-se a terra.
Então os deuses foram formados por esta união entre as águas primordiais.
Discórdia rompeu entre os deuses, apesar de serem irmãos, e a brigar eles começaram na barriga de Tiamat, fazendo o céu tremer, e se mexer como numa dança frenética, de tal forma que Apsu não pode silenciar o clamor dos jovens deuses, fazer cessar tal mal comportamento, altaneiro e orgulhoso.
Então, a seu tempo, estes novos deuses começaram a incomodar Apsu e Tiamat. São demasiado tumultuosos e Apsu decide matá-los:
Tiamat, ainda quieta se quedava, quando Apsu, o pai de todos os deuses, chamou por seu conselheiro Mummu:
- Caro conselheiro, vem comigo a Tiamat.
Eles assim o fizeram, e em frente de Tiamat eles se sentaram, falando sobre os jovens deuses, seus filhos primogênitos, sendo que disse Apsu:
– Os modos deles me revoltam, dia e noite, sem cessar, sofremos. Minha vontade é destruí-los, todos eles, para que possamos ter paz e dormir novamente.
Quando Tiamat escutou isto, sentiu-se atingida, e se retorceu, em solitária desolação, o coração cheio de paixão mantida em segredo.
Disse Tiamat:
- Por que devemos destruir os filhos que fizemos? Se os modos deles são o problema, esperemos um pouco mais.
Então Mummu aconselhou Apsu, e ele falou com maldade:
- Pai, destrua-os todos numa rebelião de monta, e teremos paz durante o dia, e à noite todos poderemos dormir.
Quando Apsu ouviu que os dados haviam sido lançados contra seus filhos e filhas, sua face inflamou-se com o prazer do mal; mas a Mummu ele abraçou, pendurou-se ao seu pescoço, colocou-o nos seus joelhos e o beijou. 

Ea, também conhecido por Enki, descobre o plano, antecipa-se e mata Apsu. Posteriormente, Damkina, esposa de Ea, dá à luz Marduk
Entretanto, Tiamat, enraivecida pelo assassinato de seu marido jura vingança e cria onze monstros para executar uma vingança.
Tiamat casa com Kingu e coloca-o à frente de seu novo exército.
As forças que Tiamat reuniu preparam-se para a vingança. 
Entretanto Ea descobre o plano e confronta-a, mas é derrotado.
Anu desafia-a, mas tem o mesmo destino. 
Os deuses começam a temer que ninguém será capaz de deter Tiamat.
Gaga, ministro de Assur, é encarregado de vigiar as atividades de Tiamat e de os informar da vontade de Marduk de a enfrentar. 
O conselho dos deuses testa os poderes de Marduk.
Depois de passar o teste, o conselho entrega o trono a Marduk e encarrega-o de lutar contra Tiamat.
Com a autoridade do conselho, reúne as armas, os quatro ventos e ainda os sete ventos da destruição, e segue para o confronto. 
Depois de prender Tiamat numa rede, liberta o Vento do Mal contra ela. Incapacitando-a, primeiro, Marduk mata-a com uma seta no coração, capturando os deuses e monstros aliados. 
Marduk divide o corpo de Tiamat, usando metade para criar a terra e a outra metade para criar o céu.
"Ele dividiu-a como quem abre uma concha
Metade dela ele usou-a como firmamento 
Fixou uma plataforma, postou uma sentinela,
E ordenou para se represarem as águas."
Marduk cria residências para os outros deuses.
À medida que estes vão ocupando o seu lugar vão sendo criados os dias, meses e estações do ano.
As fases da Lua determinam o ciclo dos meses.
Da saliva de Tiamat, Marduk cria a chuva.
A cidade da Babilónia é criada sob a protecção do rei Marduk. 
Marduk decide criar os seres humanos mas precisa de sangue para os criar, mas apenas um dos deuses poderá morrer, o culpado de lançar o mal sobre os deuses.
Marduk consulta o conselho e descobre que quem incitou a revolta de Tiamat foi o seu marido, Kingu.
Marduk mata Kingu e usa seu sangue para criar o Homem, de forma a que este sirva de escravo dos deuses. 
Em honra a Marduk, os deuses constroem-lhe uma casa na Babilónia, havendo um grande festim para os deuses quando terminada.

Para entender a parte cosmogonica é necessário perceber o que é que os antigos entendiam por "firmamento". A figura seguinte dá uma ideia dessa visão do mundo:




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